O aproveitamento dos alimentos se inicia com a mastigação, processo que prepara o bolo alimentar para uma boa recepção gástrica. Isso ocorre juntamente com a insalivação começando aí o processo digestório. Desta forma, a cavidade oral é extremamente importante para este processo.
Diversas alterações podem surgir em decorrência de um desequilíbrio na cavidade oral, entre as quais podemos destacar a cárie dentária – uma doença destrutiva pós-erupção localizada nos tecidos calcificados dos dentes. É um problema multifatorial, infeccioso, transmissível e sacarose dependente. Necessita da interação entre microorganismos patogênicos e dieta cariogênica, num hospedeiro que ofereça um ambiente adequado, durante certo período de tempo.
Dados do Ministério da Saúde (MS, 2008) sobre a saúde bucal dos brasileiros mostram que 38% das crianças de 18 a 36 meses apresentam pelo menos um dente decíduo, com cárie dentária. Ainda, 60% das crianças de cinco anos de idade apresentam cárie.
O índice CPO, do MS, mostra a incidência de cárie em dentes permanente, perdidos ou obturados por indivíduos. Este índice tem evidenciado rápido avanço com o aumento das faixas etárias. A média do índice é 4,8 em crianças de 12 anos, 8,2 em adolescentes, 24,1 em adultos e 37,8 em idosos.
A dieta primitiva dos seres humanos mostra baixos índices de cáries dentárias. Porém, isso mudou com a introdução do açúcar e grãos de cereais processados em suas dietas. Pode-se observar que, com a modernização no mundo e o elevado padrão de vida, ocorreu uma mudança também nos padrões alimentares, sendo evidenciado grande aumento no índice de lesões cariosas ao ser adotada uma dieta com alto consumo de produtos vendidos em lanchonetes, padarias e com grande conteúdo de açúcares.
A cárie está diretamente relacionada à introdução dos carboidratos refinados na dieta da população, principalmente a sacarose, que é considerada o dissacarídeo mais cariogênico, sendo este o mais presente na dieta familiar em quase todo o mundo.
O processo cariogênico começa com a produção de ácidos, quando o produto de metabolismo bacteriano ocupa a placa dentária. A descalcificação da superfície continua até a ação de tamponamento salivar ser capaz de elevar o pH acima do nível cítrico. Posteriormente, a placa se combina com o cálcio e endurece, formando o tártaro ou o cálculo, irritando também a gengiva.
A sacarose, como outros açúcares (glicose, frutose, maltose e lactose) estimula a atividade bacteriana. Todas as formas dietéticas de açúcar, inclusive o mel, melaço, açúcar mascavo possuem potencial cariogênico e podem ser usadas pelas bactérias para produzir subprodutos ácidos orgânicos do metabolismo.
Fatores nutricionais relacionados à cariogenicidade:
· Alimentos cariogênicos: alimentos ricos em carboidratos, principalmente refinados (açúcar e doces);
· Alimentos cariostáticos: não contribuem para a cárie. Proteínas: peixes, carnes, frango, ovos. As gorduras também não contribuem para o aparecimento de cáries, pois formam um película oleosa nos dentes;
· Água: a ingestão de água, além de ser necessária para as funções vitais do organismo, é importante para o mecanismo de limpeza dos dentes;
· Fibras: são importantes pois promovem auto- limpeza e pelo estímulo mastigatório aos dentes;
· Seqüência e combinação dos alimentos. Por exemplo, comer vários biscoitos doces de uma só vez é menos cariogênico do que comer esses biscoitos ao longo do dia, pois expõe os dentes aos ácidos formados pela placa bacteriana várias vezes;
· Vitaminas: são importantes, já que a Vitamina A, por exemplo, é necessária para o tecido epitelial e reepitelização e ativação da ceratina-dentina responsável pelo esmalte dos dentes. A Vitamina D é importante para absorção de cálcio e fósforo - importantes para a dentina e síntese dos ossos.
Os programas de prevenção de cáries se concentram em uma dieta balanceada, modificação das fontes e quantidades de carboidratos fermentáveis e integração de práticas de higiene oral no estilo de vida das pessoas.
O aconselhamento dietético é fundamental para qualquer programa de prevenção e manutenção de saúde bucal, visto que os hábitos dietéticos adquiridos na infância formam a base para o futuro padrão alimentar. Nele deve-se levar em conta, porém, a realidade em que a criança vive, tendo como objetivo central a utilização racional de açúcar.
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MINISTÉRIO DA SAÚDE. Disponível em http://portal.saude.gov.br/saude/. Acesso em 04/09/2008