segunda-feira, 9 de abril de 2012

Recessão Gengival

A recessão gengival é o posicionamento apical da margem gengival, que leva à exposição da superfície radicular ao meio oral. Esse problema é bastante comum e pode afetar grande parte das pessoas. Estudos epidemiológicos no Brasil demonstraram que as recessões gengivais podem afetar até 100% dos indivíduos com mais de 50 anos de idade.


A exposição da superfície radicular causada pelas recessões pode trazer outras consequências. Uma das mais frequentes e que gera muita queixa por parte dos pacientes é a perda da estética. Nesses dias, onde a estética tem alto valor para a sociedade, a falta de alinhamento das margens gengivais causada pelas recessões causa inúmeras queixas. Com a migração apical da margem gengival os dentes ganham um aspecto alongado, dando a aparência de que o dente com a recessão é mais longo do que os vizinhos. Essa falta de alinhamento das margens gengivais nos dentes anteriores pode ser crítico para a harmonia do sorriso e, assim, o desalinhamento das margens gengivais e a falta de proporção no aparente tamanho dos dentes causam essa queixa.

Além da estética, o hipersensibilidade dentinária é motivo de outras inúmeras queixas. Esse sintoma se caracteriza pela sensibilidade dolorosa no elemento dental em decorrência de estímulos térmicos (quente ou frio), osmóticos (doce) e tácteis (escovação) quando a raiz dental na região cervical é exposta. O desconforto causado pela presença da hipersensibilidade dentinária pode levar o indivíduo a negligenciar a escovação na região afetada e com isso propiciar o acúmulo de biofilme dental, que por sua vez, pode ocasionar gengivite e cárie radicular. Por esse motivo, diversos pacientes procuram por tratamento odontológico e nesses casos o recobrimento radicular com cirurgia plástica periodontal está indicado.


                

Adicionalmente às duas queixas acima citadas provocadas pelas recessões gengivais, outros efeitos negativos podem aparecer.
Um dos mais frequentes é desgaste na região cervical provocadas por lesões cervicais não-cariosa. As recessões gengivais e as lesões cervicais não-cariosas estão frequentemente associadas. Segundo alguns autores , cerca de 50% dos elementos dentais com recessões gengivais também apresentam perda da junção cemento-esmalte em decorrência da presença concomitante de uma lesão cervical não-cariosa. Isso ocorre porque os dois tipos de lesões estão intimamente relacionadas. Além de possuírem um de seus agentes etiológicos em comum, a escovação traumática, a migração apical da margem gengival expõe a superfície radicular que notadamente é menos resistente ao trauma produzido pela escovação dental do que a coroa, podendo assim facilitar o aparecimento do desgaste cervical. A presença concomitante de uma lesão cervical não-cariosa à recessão gengival pode aumentar a incidência de hipersensibilidade dentinária e, da mesma forma, facilitar o acúmulo de biofilme dental e por consequência gengivite e possíveis lesões de cárie.

A Figura mostra uma recessão gengival associada a uma lesão cervical não-cariosa, dos elementos  15,14 e 13 e a solução deste problema após ao recobrimento radicular.

                                           presença de lesões cariosas                               após recobrimento radicular

Assim, diversas modalidades de tratamento têm sido desenvolvidas para o controle das recessões gengivais.
Dentre as diversas técnicas cirúrgicas, existem algumas que são mais comumente utilizadas e que apresentam um corpo maior de evidências científicas, como a de retalho posicionado coronariamente (CAF) e a de enxerto de tecido conjuntivo (CTG), que é atualmente o padrão "ouro" de comparação para o tratamento desses defeitos.

Essas são as que apresentam maior previsibilidade comparada com as demais. No entanto, elas apresentam algumas desvantagens, como recorrência da recessão ao longo dos anos após a utilização do CAF e a necessidade de um segundo sítio cirúrgico no caso do CTG para a obtenção do enxerto de tecido conjuntivo.


 Em vista disso, alguns biomateriais têm sido utilizados para melhorar o resultado dessas técnicas ou eliminar a necessidade da utilização de um segundo sítio doador.
Dentre eles, destacam-se as proteínas derivadas da matriz do esmalte  ( ENDOGAIN ), que ainda possuem resultados controversos acerta de benefícios adicionais quando associado ao CAF; a matriz dérmica acelular ( ALLODERM ) , atualmente sem aprovação de comercialização pela Anvisa e a matriz de colágeno, recém-introduzida no mercado nacional e que ainda necessita de comprovação científica sobre os seus benefícios.

Independente da técnica cirúrgica a ser utilizada, associada ao não a um biomaterial, o sucesso do tratamento reside em:

1. Eliminar os fatores etiológicos das recessões, como escovação traumática e inflamação induzida por biofilme.

2. Avaliação minuciosa dos fatores anatômicos locais que podem influenciar no resultado final das cirurgias, como por exemplo, ausência de perda de tecido interproximal adjacente à recessão, espessura do tecido marginal, se o paciente é fumante, e a presença de lesões cariosas e/ou não cariosas.


 Concluindo, a recessão gengival acomete um grande número de pessoas em diversas populações e, além disso, tem o potencial de causar diversos transtornos, como sensibilidade, desgastes cervicais e queixas estéticas, que podem levar os indivíduos a procurarem o tratamento periodontal. Portanto, o conhecimento sobre os fatores causais das recessões, suas implicações clínicas e como abordar do problema são fundamentais para o planejamento e condução de casos que envolvam esse tipo de defeito.  

Fonte: Revista PerioNews



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